Por Caio Sobral
“Medusa” apresenta uma clara evolução técnica e temática do que foi previamente apresentado em “Mate-me Por Favor” (2016). Entretanto, Anita tem muito o que mostrar, ainda.
A evolução temática do filme se dá diante de uma projeção amplificada de uma realidade fascista e fundamentalista cristã, tangencialmente apresentada na estreia da diretora. Essa projeção, além de expor um teor tragicômico e acurado com a contemporaneidade brasileira, traz críticas contundentes através de sua mise-en-scène, que transita entre o exagero brega (com a igreja iluminada por neon, quarto todo decorado de rosa) e uma nulidade aterrorizante (mulheres mascaradas em ruas vazias, leitos hospitalares espaçosos e sem vida).
Já no teor técnico, aferimos uma evolução a partir da criação do terror do filme. Além do bom uso das locações já citadas, também ocorre uma ótima construção de atmosfera a partir dos seus arcos de personagens. A milícia da igreja é composta por homens que se exercitam e se movem de maneira sincronizada e performática, enquanto o núcleo de mulheres se mostra acuado e oprimido diante dessa realidade. Somando tudo isso com uma montagem que conduz o espectador de maneira dura no mundo do filme, havendo assim uma grande qualidade na construção de universo e imersão no que se mostra.
Estranhamente, os momentos didáticos do filme funcionam e encaixam, sem empobrecê-lo de maneira direta, já que dialoga diretamente com a parte estética do exagero. Apesar disso, “Medusa” se perde no seu ato final, os mistérios acabam sem razão, as relações entre as personagens se desmancham e o sentido se esvai.
Diante de um evidente crescimento da diretora, o filme ajuda a posicionar Anita Rocha da Silveira como uma figura a despontar no cenário cinematográfico através de suas narrativas, que modulam a realidade do Brasil de modo certeiro e com uma conversa precisa entre os gêneros que escolhe trabalhar.