Banzo (Dir.: Rafael Luan)

Por Julia Rigaud

Ao assistir “Banzo”, percebi que com o passar do tempo o efeito do filme se manteve em minha memória. O curta do Rafael Luan é delicado e profundo para retratar uma situação pontual: uma mãe lidando com a ausência do filho.

“Banzo” trata a morte de um jovem preto da favela através do olhar de uma mãe. É um convite para refletir sobre o que sempre aconteceu no nosso país, mas que só nos é apresentado em forma de notícia.

O filme mostra com precisão o ar cotidiano da relação entre mãe e filho e o vazio da partida, do desaparecimento e da dúvida. A sequência de animação que faz uma clara referência a sirenes de polícia, com linhas vermelhas e azuis que se encontram e desencontram de maneira disforme nos dá uma pista do que pôde ter ocorrido, bem como aparenta retratar o sentimento caótico da situação. Experimentamos o desespero silencioso da protagonista Joana, o não dito que se arrasta até a conclusão do filme.

O diretor também utiliza recursos que contam uma longa história em um curto tempo de duração. A apresentação das fotos do filho, que aparecem enquanto Joana comenta sobre sua preocupação, expõe de maneira sucinta anos de amor e dedicação de quem viu alguém crescer e se desenvolver. De quem viu, e não verá nunca mais.

A cena final é impactante e bela, pois a protagonista encontra consolo na arte, e enquanto canta a música “Sonhos” de Peninha, parece ninar a sua própria angústia. A canção composta para falar de um romance se encaixa perfeitamente no universo maternal do Rafael Luan, e mostra a força de uma mãe que nos deixa uma mensagem de esperança: certamente será mais feliz em um amanhã que o filme não mostra.

Sobre André Dib

André Dib é jornalista, pesquisador e crítico de cinema, com experiência em festivais brasileiros e estrangeiros. Realiza curadorias e oficinas para instituições, mostras e festivais de cinema. Membro da diretoria da Associação Brasileira dos Críticos de Cinema (Abraccine 2013-17). Tem textos publicados em diversos jornais, revistas, sites e catálogos, além do livro “100 Melhores Filmes Brasileiros” (2016), “Documentário Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2017) e “Animação Brasileira: 100 Filmes Essenciais” (2018), organizados pela Abraccine. Idealizou e coordenou até 2017 o projeto de exibição “Sessão Abraccine”. Organizador (com Gabi Saegesser) do livro "Antologia da Crítica Pernambucana" (2020). Mestre em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba.
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