Por Julia Rigaud
Ao assistir “Banzo”, percebi que com o passar do tempo o efeito do filme se manteve em minha memória. O curta do Rafael Luan é delicado e profundo para retratar uma situação pontual: uma mãe lidando com a ausência do filho.
“Banzo” trata a morte de um jovem preto da favela através do olhar de uma mãe. É um convite para refletir sobre o que sempre aconteceu no nosso país, mas que só nos é apresentado em forma de notícia.
O filme mostra com precisão o ar cotidiano da relação entre mãe e filho e o vazio da partida, do desaparecimento e da dúvida. A sequência de animação que faz uma clara referência a sirenes de polícia, com linhas vermelhas e azuis que se encontram e desencontram de maneira disforme nos dá uma pista do que pôde ter ocorrido, bem como aparenta retratar o sentimento caótico da situação. Experimentamos o desespero silencioso da protagonista Joana, o não dito que se arrasta até a conclusão do filme.
O diretor também utiliza recursos que contam uma longa história em um curto tempo de duração. A apresentação das fotos do filho, que aparecem enquanto Joana comenta sobre sua preocupação, expõe de maneira sucinta anos de amor e dedicação de quem viu alguém crescer e se desenvolver. De quem viu, e não verá nunca mais.
A cena final é impactante e bela, pois a protagonista encontra consolo na arte, e enquanto canta a música “Sonhos” de Peninha, parece ninar a sua própria angústia. A canção composta para falar de um romance se encaixa perfeitamente no universo maternal do Rafael Luan, e mostra a força de uma mãe que nos deixa uma mensagem de esperança: certamente será mais feliz em um amanhã que o filme não mostra.