Por Kamila Dutra
Ogum Alágbedé, o ferreiro dos orixás e senhor dos caminhos. Também conhecido por ser o interventor do progresso da humanidade, através da arte da forja ensinou o homem a construir ferramentas para caçar, se alimentar, se abrigar, guerrear e se proteger. É através de Zé do Diabo, no documentário Alágbedé, que vamos acompanhar o processo de materialização dos instrumentos de força sagrada desse orixá.
O curta-metragem, dirigido por Safira Moreira, em uma linguagem poética, apresenta a relação de José Adário dos Santos – o Zé do Diabo e um dos maiores ferreiros da Bahia – com o candomblé. O filme nos mostra como ele (re)ocupa um dos locais mais significativos da história de Salvador, o seu arco na Ladeira da Conceição, espaço de tantas lutas e resistências.
Com a direção de fotografia realizada por Rafael Ramos, a cinematografia é rica em detalhes e enquadramentos assertivos, aliados com as cores em tons fechados e sombreados, além de uma sonoridade realística, nos dão a sensação de estar dentro da oficina de Zé, contemplando o momento que ele ‘‘pega o jabá de Ogum’’ e começa a transmutar pedaços de ferro em objetos sagrados.
Além de registrar o trabalho de um homem simples, detentor do saber e técnicas ancestrais, o documentário tem a finalidade de conservar um importante patrimônio imaterial das religiões de matriz africana, que é o ofício dos ferreiros de orixá.
É uma tentativa de mobilização pela permanência desses artífices na Ladeira e, de certo modo, uma forma de dizer ‘‘o centro antigo de Salvador vive’’.